Manuseio do trauma sempre foi a área cirúrgica que os cirurgiões buco
maxilofaciais se destacaram ao longo dos anos. Particularmente, nossa
experiência com a anatomia dental,
fisiologia da cabeça e pescoço, e oclusão
fornecerão habilidades incomparáveis para o manuseio das fraturas
mandibulares.
A mandíbula é a segunda parte mais comumente fraturada do
complexo maxilofacial devido a sua posição e proeminência. A localização e o padrão das fraturas são
determinados pelo mecanismo da injúria e a direção da força (vetor) . Em adição
a idade do paciente, a presença de dentes, e as propriedades físicas do agente
causador do trauma também possuem efeito direto nas características resultantes
do trauma.
A instabilidade do osso da área anatômica envolvida é
usualmente fácil de ser reconhecida durante o exame clínico. Má oclusão
dentária, lacerações gengivais, e formação de hematomas são as mais comuns
manifestações clínicas.
No manuseio de qualquer fratura óssea, os objetivos do
tratamento são restaurar a função assegurando a união dos fragmentos da
fratura; restaurar qualquer defeito de
contorno que pode ter ocorrido devido ao ferimento; e prevenir a infecção do
local da fratura. Restauração da função
mandibular, em particular, como parte do sistema estomatognático a oclusão
normal, para normalizar a fala, e permitir movimentos articulares como era
antes de ocorrer a fratura. Em ordem para
conseguir esses objetivos, a devolução da oclusão normal do paciente se torna a
parte mais importante do tratamento.
Princípios básicos de cirurgia ortopédica também são
aplicados para fraturas mandibulares incluindo a redução, fixação, imobilização
e terapias de suporte. É bem sabido que a união dos segmentos da fratura somente
irá ocorrer com a ausência de mobilidade. A estabilidade dos segmentos
fraturados são a chave para a recuperação da área lesionada tanto de tecido
mole quanto ósseo. Portanto, o sítio da
fratura deve ser estabilizado por meios mecânicos em ordem para ajudar a guiar
o processo fisiológico para uma recuperação normal do osso.
A redução da fratura pode ser
conseguida tanto com técnicas abertas quanto fechadas.
Na redução aberta, o sítio da
fratura é exposto, permitindo visão direta e confirmação do procedimento. Isso
é tipicamente acompanhado por uma aplicação direta de um dispositivo de fixação
no local da fratura.
FIGURE 22-1.
FIGURE 22-1.
Uma redução fechada é feita quando o local da fratura não é
cirurgicamente exposta, mas a redução é precisamente considerada pela palpação
dos fragmentos ósseas e restauração da
função dos segmentos, por exemplo, recuperação da oclusão dental amarrando os
dentes com fios, usando talas (splints), ou com emprego de pinos externos.
Figure 22-2.
Figure 22-2.
A fixação deve permitir resistência as forças mastigatórias
de deslocamento da mandíbula. Isso pode ser conseguido de uma ou duas formas:
direta ou indireta.
Quando a fixação direta é usada,
a fratura é aberta cirurgicamente, visualizada e reduzida; a estabilização é
aplicada transversalmente sobre a linha de fratura. A rigidez de uma fixação direta pode ser de
um simples fio de osteosintese transversalmente sobre a fratura (fixação não
rígida) ou pela implantação de miniplacas na área da fratura (fixação
semirrígida) ou pela implantação de parafusos (técnica de leg screw).
Fixação indireta é a estabilização dos fragmentos distais e
proximais do osso de um local distante da linha da fratura. O método mais
comumente usado para fraturas mandibulares é o uso de fixação intermaxilar
(IMF). Um exemplo de fixação indireta é o uso de um pino de fixação externo
bifásico em combinação com uma extrutura externa.
Figure 22-3
Ao longo das três últimas décadas diferente técnicas e
acessos tem sido descrito na literatura para correção das fraturas faciais.
Mais recentemente o uso da fixação interna com a utilização de placas
demonstrou maior sucesso com menor incidência de pseudoartrose e infecções
pós-operatórias.
obs: Pseudoartrose é a não consolidação de uma fratura. Também definida como falsa articulação, a pseudoartrose caracteriza-se então pela falta de consolidação óssea em relação a uma fratura ou mesmo a uma artrose.wikipedia
CONSIDERAÇÕES
BIOMECÂNICAS
Estudos das relações entre a natureza, severidade
e direção da força que resulta no trauma mandibular foi feito por Huelke et al.
Antes disso, poucos estudos
experimentais foram feitos considerando o mecanismo da fratura mandibular. A
maioria das considerações encontradas na literatura em relação ao mecanismo das
fraturas são baseadas em impressões clínicas e opiniões.
Primeiros investigadores mostraram que
fraturas lineares em ossos longos é iniciado pela falha do osso resultante de
tensões elásticas, maior que tensões compreensivas. Huelke e Harger aplicaram
forças de várias magnitudes e direções em mandíbulas dissecadas e observaram a
produção de tensão e compreensão. Eles encontraram que > 75% de todos os
experimentos produziram fraturas da mandíbula em áreas de tensão elástica, semelhantes
aquelas observadas em ossos longos. Uma exceção notável foram as injúrias
cominutas da cabeça do côndilo que é produzida por uma carga paralela ao ramo
mandibular que é primariamente resultado de força compreensiva.
A mandíbula é semelhante a um arco e distribui a força do impacto através do seu comprimento.
Figure 22-4.
Entretanto, ao contrário do arco, a mandíbula não possui osso uniforme e contornos suaves, possui descontinuidades como a foramina, curvas acentuadas, cristas e regiões transversalmente reduzidas como a área subcondilar. Como resultado, partes da mandíbula desenvolvem maior força por unidade de área, e consequentemente, as tensões elásticas são concentradas nesses lugares.
A mandíbula é semelhante a um arco e distribui a força do impacto através do seu comprimento.
Figure 22-4.
Entretanto, ao contrário do arco, a mandíbula não possui osso uniforme e contornos suaves, possui descontinuidades como a foramina, curvas acentuadas, cristas e regiões transversalmente reduzidas como a área subcondilar. Como resultado, partes da mandíbula desenvolvem maior força por unidade de área, e consequentemente, as tensões elásticas são concentradas nesses lugares.
Quando uma força é
direcionada ao longo da região de parasínfise da mandíbula, forças compressivas
desenvolvem ao longo da porção vestibular, enquanto tensões elásticas se
desenvolvem ao longo da porção lingual. Isso produz uma fratura que tem início
na região lingual e se espalha até a região vestibular. O processo condilar
contra lateral se movimenta em direção contrária ao ponto de impacto, mas antes
é limitada pela fossa e tecidos moles associados. Nesse ponto, a tensão se
desenvolve ao longo da porção lateral do pescoço condilar contra lateral, e a
fratura ocorre.
If greater force is applied to the
parasymphysis-body region, not only will tension develop along the
contralateral condylar neck leading to fracture in this area, but continued
medial movement of the smaller ipsilateral mandibular segment will lead to
bending and tension forces along the
lateral aspect and subsequent fracture
of the condylar process on the ipsilateral side.
Forças aplicadas diretamente sobre a região da sínfise em um plano axial é distribuído ao longo do arco da mandíbula. Devido a cabeça dos côndilos estarem livres para rotacionar dentro da fossa glenóide, a tensão se desenvolve ao longo da porção do pescoço do côndilo e região do corpo da mandíbula, bem como a porção lingual da sínfise. Isso leva a uma fratura bilateral do condilo e fratura da sínfise.
IMG 22-5
Variação para esses padrões de fratura ocorrem por duas maneiras gerais. Primeiro,
há uma ampla gama de possíveis magnitudes e direções do impacto, e a forma do
objeto do impacto. Segundo, a condição da dentição, posição da mandíbula e
tecidos moles associados não podem ser controlados nesses estudos.
Alguns observadores dizem que a presença de dentes
posteriores tendem a reduzir a incidência de fraturas condilares. A implicação
é que, a mandíbula quando forçado posterior e superiormente, a dentição irá
absorver um pouco da força diminuindo a força recebida pelos côndilos. Isso foi
suportado devido a observação de fratura frequente da dentição posterior no
mesmo lado da fratura condilar. Entretanto, achados mais recentes mostraram que
qualquer tipo de fratura ocorre independente da oclusão, e não há relação entre
o grau de luxação, nível da fratura, ou tipo de fratura com a presença de
oclusão posterior.
A ausência de dentes posteriores também não possuem relações com as fraturas.
A ausência de dentes posteriores também não possuem relações com as fraturas.
Os terceiros molares impactados aumentam a probabilidade de
ocorrer uma fratura, pois nessa área onde se encontra o dente se torna fraca, e
incidência de fraturas condilares diminui, enquanto as de ângulo aumentam.
Estudos recentes demonstraram que não só a incidência da
fratura aumenta quando a boca está aberta, como o nível da fratura varia
dependendo do grau de abertura. Quando a boca está aberta, a linha de fratura
tende a localizar mais na região do pescoço e cabeça do côndilo, enquanto
quando fechada, fraturas ocorrem em área subcondilar.
AVALIAÇÃO DAS
FRATURAS MANDIBULARES
Trauma craniofacial e da base do crânio requer uma equipe multidisciplinar
pra fazer o acesso.
Médicos especializados em trauma devem avaliar cuidadosamente e manter uma alto índice de suspeita para melhor a sobrevivência e aumentar recuperação funcional.
Médicos especializados em trauma devem avaliar cuidadosamente e manter uma alto índice de suspeita para melhor a sobrevivência e aumentar recuperação funcional.
Frequentemente, injúrias craniofaciais e da base do crânio
são negligenciados enquanto o paciente está sendo tratado por outras injúrias
que podem causar risco de morte ao paciente.
Fraturas do complexo craniofacial e base do crânio, fluidos
de fistulas cerebroespinhais e lesões aos nervos do crânio podem resultar em
cegueira, diplopia, surdez, paralisia facial ou meningite.
Seguindo os princípios do “advanced Trauma Life Support”,
durante o acesso inicial no departamento de emergência, a primeira e mais
crítica obrigação é ter certeza de que as vias aéreas estão livres livre de
potencial obstrução.
A língua que tende a ir para trás deve ser controlada, e
objetos que estejam obstruindo a via aérea deve ser removido. Se uma obstrução
não puder ser removida, uma nova via deve ser obtida por intubação endotraqueal
ou traqueostomia.
Após a via aérea ser desobstruída e a respiração estiver
ocorrendo, sinais vitais devem ser conferido, incluído pulso e pressão sanguínea.
Qualquer perda significante de sangue é provável que seja de origem de outra parte do corpo. Outras
injúrias críticas devem ser descartadas, incluindo hemorragias intracranianas,
lesões cervicais, espinhal, peito e abdominal e fraturas de ossos longos.
Examinação da face e dos maxilares deve ser conduzida de
forma logica e sequencial. O primeiro objetivo
é obter a história do paciente. Pertinente a fratura de mandíbula ao
exame deve notar-se o tamanho, número , e força de qualquer golpes na face.
Pacientes frequentemente se queixam do seguinte:
·
Dor e sensibilidade é frequentemente presente no
lado do impacto com a possibilidade de fratura direta, ou em local distante em
caso de fratura indireta.
·
Dificuldade de mastigação. Dor pode estar
causando limitação da função mandibular ou pode haver mal oclusão ou mobilidade
do local da fratura.
·
Má oclusão. O paciente deve estar apto a contar
ao clinico alterações da mordida normal; entretanto, paciente nem sempre são
confiáveis e podem queixar-se de que a oclusão está normal quando não está ou
vice e versa.
·
Entorpecimento do nervo alveolar inferior. Isso
é indicativo de fratura com deslocamento na região do corpo e ângulo da mandíbula
no lado afetado. Uma fratura não deslocada não causa entorpecimento do nervo
alveolar inferior.
EXAME CLÍNICO
O exame clínico deve consistir em inspeção e palpação. É
melhor seguir uma ordem para realizar essa avaliação como parte componente de
toda a cabeça e pescoço. A pele da face,
em particular, a área ao redor da mandíbula deve ser inspecionado por inchaço,
hematomas e lacerações. Um local comum para lacerações e abaixo do queixo, e
dever alertar ao clinico sobre a possibilidade de uma fratura subcondilar
associada ou fratura de sínfise. Normalmente, o paciente que sofreu de trauma
mandibular irá apresentar assimetria facial.
FIG 22-6
Isso irá acarretar em perda de altura vertical do ramo no local da fratura. A melhor sequência para se avaliar uma fratura facial é inicar pela parte de cima para baixo, acessando a estabilidade das estruturas anatômicas numa sequência medialateral (do centro da face para a periferia). É melhor iniciar o exame por trás do paciente que poderá estar em posição supina ou sentado.
FIG 22-7
FIG 22-6
Isso irá acarretar em perda de altura vertical do ramo no local da fratura. A melhor sequência para se avaliar uma fratura facial é inicar pela parte de cima para baixo, acessando a estabilidade das estruturas anatômicas numa sequência medialateral (do centro da face para a periferia). É melhor iniciar o exame por trás do paciente que poderá estar em posição supina ou sentado.
FIG 22-7
O clínico deve palpar ambos os côndilos em movimento sobre a
superfície lateral da articulação e através da palpação do meato acústico
externo e observar esse movimento. Se uma fratura unilateral está presente, uma
avaliação subjetiva pode ser feita, comparando o movimento de um lado com o
outro. Falha para detectar a translação do côndilo, especialmente quando
associado com dor a palpação, é altamente indicativo de fratura nesta área.
Palpação frequentemente irá confirmar sensibilidade sobre o polo lateral da
lesão condilar com crepitação associada. Entretanto, em casos de fraturas com
deslocamento, o côndilo pode não ser palpado.
Qualquer desvio significativo de abertura pode ser
indicativo de fratura subcondilar do lado que a mandíbula desvia. Para melhora
avalias essa área, os cinco dedos são posicionados em cada meato acústico e
pede se o paciente que abra e feche a boca. No movimento de abertura, a
mandíbula frequentemente muda em direção ao lado da fratura como resultado da
translação diminuída do condilo no local da injúria. Como mencionado
anteriormente, em fratura unilaterais, haverá o desvio da oclusão em direção ao
lado fraturado, com contato oclusal prematuro na região posterior do mesmo
lado. Isso acontece porque o músculo pterigoideo
lateral puxa o segmento ósseo fraturado e não irá ter influencia na protrusão
da mandíbula. E o músculo pterigoideo lateral contra lateral fica sem oposição
e isso causa desvio do lado fraturado. A linha média não irá coincidir, e
haverá mordida aberta na região do corpo e do lado contra lateral. Isso é
frequentemente acompanhado por fratura na dentição posterior do mesmo lado da
fratura condilar.
FIG 22-8
FIG 22-8
Se for uma fratura bilateral do côndilo, a oclusão pode não
ser desviada. A linha média frequentemente é coincidente, e haverá contato
prematuro bilateral na região posterior com mordida aberta anterior. A dentição
posterior pode ser fraturada nessas ocasiões.
Frequentemente pacientes com fratura do processo condilar
também em movimento limitado. Essa limitação, entretanto, inicialmente causada
por restrição voluntária como resultado
da dor. Uma coisa que se deve ter em mente que qualquer limitação do movimento
mandibular também pode ser resultado de espasmos musculares, efusão
temporomandibular, ou obstrução mecânica do processo coronóide resultante da
depressão do arco zigomático. Outros achados menos comuns incluem sangue dentro
do canal auditivo externo e, no caso de fratura com deslocamento,
desenvolvimento de uma depressão proeminente pré-auricular.
Cuidadoso exame otoscopico do canal auditivo externo é de
extrema importância em pacientes com suspeita de lesão nesse nível.
Ocasionalmente uma fratura do processo condilar irá produzir um dilaceramento
da linha epitelial da parede anterior do canal, que irá produzir sangramento no
meato acústico. É importante determinar se este sangramento não é de origem
posterior a ruptura da membrana timpânica, que pode significar uma fratura da
base do crânio.
Um exame intraoral detalhado deve ser feito com boa
iluminação e disponibilidade imediata de cânulas sugadoras. Os achados
intraorais mais comuns são a presença de má oclusões, fratura da dentição, e
diminuição da abertura interincisal.
Continuando com a avaliação sistemática do paciente, é
sugestivo que a examinação dos tecidos moles sejam feito depois. O tecido
gengival deve ser inspecionado para lacerações e dilacerações. Com uma espátula
de madeira, o assoalho da boca é examinado; equimose sublingual é quase
patognomico na fratura de mandíbula. Depois a dentição é examinada para a
presença de elementos quebrados e irregularidades no arco dental. Pede-se ao
paciente que morda levemente e o mesmo deve dizer aonde a mordida é diferente
do normal, seguindo com a inspeção da oclusão. Contatos prematuros são
detectados. As três causas de uma oclusão alterada em um paciente traumatizado
são fraturas deslocadas, injúrias dentais como deslocamentos dentários, e efusão
ou luxação da articulação temporomandibular.
Se o paciente é desdentado e possui dentadura intacta com
ele, ela deve ser recolocada na boca e a oclusão inspecionada.
fig 22-9
fig 22-9
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